COMO APROXIMAR AS CRIANÇAS DA NATUREZA?
Você tem alguma memória de brincar na natureza em sua infância? Subir na árvore, deitar na grama, caçar tatu-bola ou construir uma cabana ao ar livre? Infelizmente, é possível que essas memórias estejam em extinção para muitas crianças que vivem no ambiente urbano da atualidade.
Estudos mostram que entre 1997 e 2003 houve um declínio de 50% na proporção de crianças de 9 a 12 anos que passavam tempo em atividades externas nos Estados Unidos¹. As crianças brasileiras são as que mais passam tempo na frente da televisão² e chegam a ficar 90% do tempo em lugares fechados nos grandes centros urbanos³.
As consequências dessa desconexão dos pequenos com a natureza estão sendo percebidas, estudadas e colocadas em pauta em diversos contextos e espaços. São levantadas, por exemplo, que questões como obesidade infantil, ansiedade, depressão, dificuldades de concentração e menos interação social, estão relacionadas com o pouco contato das crianças com ambientes naturais.
A fala de um dos maiores especialistas da área Richard Louv, entretanto, chama a atenção para um aspecto interessante (e preocupante): “Estamos criando um ambiente em que, creio eu, as crianças estão menos vivas.” Ele aponta que um dos principais impactos da desconexão com a natureza é o encolhimento de seu mundo sensorial. Ao invés de terem experiências primárias, diretas e exploratórias com o mundo, crianças estão apenas observando, dialogando e vivenciando o mundo por meio de telas e aplicativos. As novas tecnologias não envolvem o toque humano e dessa maneira nossos sentidos estão sendo eletrificados e segundo o próprio Louv, corremos o risco de despersonalização da vida humana.
Por isso, é essencial que possamos resgatar e incentivar cada vez mais o contato das crianças com a natureza. Dentre os principais benefícios desse contato, podemos destacar: o estímulo de todos os sentidos e a criatividade; as crianças ficam fisicamente mais ativas e apresentam melhora na coordenação motora, equilíbrio e agilidade; contribui na melhora de doenças crônicas como diabetes e asma; promove interações sociais apoiando no estreitamento de vínculos sociais e inspira momentos de concentração.
E como começar a aproximar mais as crianças da natureza?
Primeiramente, nós, adultos, precisamos nos (re)encantar e (re)conectar com a natureza. A grande maioria das pessoas, atualmente, não se sente parte da natureza e a enxerga como um ambiente cheio de riscos, perigos, sujeiras e sem “progresso”. E adivinhem só: as crianças nos observam o tempo todo.
Mesmo nas grandes cidades podemos aproveitar os momentos livres para conhecer e ocupar parques e praças, fazer um picnic ao ar livre, caminhar, observar mais o céu, sentir o vento, ver o pôr do sol… Experimente plantar e acompanhar o crescimento de uma semente com seu filho(a) e se reencantar com a potência da vida que brota. Cuidar de uma planta, apesar de parecer simples, nos ensina valores importantes como paciência, responsabilidade, conexão, amor, criação de vínculo.
Até os brinquedos podem ser repensados e, com um pouco de criatividade, gravetos, pedras, folhas, sementes e outros elementos naturais podem se transformar em um mundo de possibilidades e novas brincadeiras.
A natureza está presente o tempo todo em nós, e ao nosso redor. E você, está presente nela?
Referências:
¹HOFFERTH, S. L.; SANDBERG, J. F.. “How American Children Spend Their Time”
²Eurodata TV Worldwide
³Programa Criança e Natureza (Instituto Alana) – “O Começo da Vida 2”
Autoras: Aline Fanti e Lívia Ribeiro – Reconectta